sábado, 29 de março de 2008

conto[2]


Era uma Quinta - feira de sol, a luz daquela manhã radiante, entrava no quarto pela porta de vidro que dava acesso ao jardim. Cíntia estava deitada de bruços com o travesseiro entre as pernas, usava uma camisola de seda na cor violeta, presente de Brendo, ela ganhara a mesma quando Brendo tinha voltado da Espanha, a camisola estava entre os outros três presentes que Cíntia recebeu naquela noite. Era impressionante como sempre, em todas as viagens que fazia Brendo trazia presente pra ela, embora simples,mas criativos e até mesmo comovente. Quando foi a Índia, trouxera uma miniatura de elefante todo pintado a mão, o elefante tinha um olhar triste, deprimente mas era lindo. Fazia apenas três meses que os dois resolveram morar no mesmo apartamento,contudo, estavam juntos a mais de dois anos não como casados, pois faltava a cerimônia, o pedido, a festa. Eles eram, além de namorados, amantes e amigos... eram cúmplices, cúmplices de um amor que seria expulsado de um para o outro. Tinham uma ótima conduta. Brendo um pouco ciumento,mas Cíntia contornava os ciúmes com seu bom senso. O sonho dela era casar na igreja com direito a véu e grinalda e tudo mais.
Cíntia estava cansada, sem vontade de levantar, pois tinha tido uma noite agitada, ficara horas na frente do espelho lendo o roteiro final da peça que entraria em cartaz na sexta-feira seguinte. O sol batia em seu rosto quando as cortinas balançavam... e ela ia se despertando aos poucos até conseguir se levantar. Cíntia olhara pára o relógio que marcava 8h 15 precisava estar no teatro às 9hs, então...em frações de segundos correu até a mesinha que fica do lado de sua cama aonde fica o micro system e colocara um som, Elis Regina cantava enquanto Cíntia corria pra ducha. E saiu em 10 minutos, se depilara, penteara, maquiara e ficou pronta, desceu as escadas, preparou um copo de achocolatado, tomou, engatou a primeira e, foi-se.
No itinerário que dava pára o teatro, Cíntia ia dirigindo com calma, porém bastante ansiosa, pois o fato do roteiro estar na ponta da língua a excitava. Mas, ela ia seguindo seu trajeto... sempre otimista, mesmo pegando todos os semáforos vermelhos,mas... não! isso não a abalava. Dentro do carro de Cíntia haviam dois porta retratos, e em um deles havia uma foto que estavam Cíntia, seu Pai e sua Mãe, todos sorrindo. Faziam três anos que Cíntia tinha perdido seus pais em um acidente de carro. Quando voltavam de Florianópolis, Sr. Aroldo e D. Mirtis tiveram uma pequena discussão durante o trajeto e uma chuva muito forte na rodovia provocou um certo nervosismo. Sr. Aroldo sofria de Mau de Parkinson, e ficou tão nervoso que perdeu o controle do volante, e, com a ajuda da chuva que encobria toda a estrada, ele jogou o carro em um penhasco provocando a morte de ambos.
Nesse instante, Cíntia parara em mais um sinal vermelho, e, pegou o porta-retrato e beijou. No oportuno, ela sentiu uma saudade profunda, que a fez derramar uma lágrima e ela não sabia se era porque sentia que eles estavam felizes na foto, ou se era de tristeza por eles não poderem ver ela estreando a peça dos seus sonhos. Cíntia chegara ao teatro as 9hs10, Brendo a esperava com um buquê de rosas amarelas. Cíntia amava rosas amarelas, e Brendo sabia muito bem disso.
Ele a beijou, abraçou forte fitou-a nos olhos disse: - você está mais linda que nunca!
Ela usava jeans e camiseta rosa e, como de costume, seu all star preto. Era impressionante como mesmo simples ela conseguia ser linda. Brendo, gentil como sempre a convidou pra entrar correndo, pois todos a esperavam para começarem a passar o texto.
Texto passado, tudo ensaiado, figurino provado, e, pronto! Já eram 17hs.
- Amanhã é o grande dia! disse Brendo após saírem do teatro. Brendo que disse pra Cíntia que não ia jantar em casa, pois tinha um jantar de negócios, mas, chegaria em casa por volta das 19hs no máximo. Ela aproveitou e passou no shopping pra fazer algumas compras passou em média 30 minutos e foi pra casa, no caminho, começou a chover.
Chegando no apartamento Cíntia olhou pára o relógio e, 20hs 45. Brendo ainda não tinha chegado. Isso a preocupou e a fez pensar besteiras, então, ligou pro celular de Brendo, e só fazia chamar...21hs e nem um sinal de Brendo, nem no celular, nem em lugar algum. A chuva engrossou. Cíntia começou a se desesperar. 21h 30 e nada. As 21h 45 o telefone dela toca.
- Alô – disse uma voz desesperada.
- Oi, quem é? – disse Cíntia – super nervosa.
- Eu sou a assistente social do Hospital Monte Carlos, aqui no bairro das flores, é que estou procurando alguma pessoa responsável pelo Sr. Brendo Videl Moura de Moura.
-Sim, pois não, sou esposa dele. – disse Cíntia com uma voz firme,mas com muito receio.
- É que ele acabou de sofrer um acidente e está aqui no hospital, encontra-se em estado grave...
Cíntia bateu o telefone, pegou a chave do carro e foi em direção ao hospital. Ela estava muito nervosa pra dirigir, mas... precisava ir ao encontro do amado que estava em estado grave, deu a partida duas vezes até o carro ligar e saiu cantando pneus. A chuva estava muito forte, o que atrapalhava a visão de Cíntia,e, ela acelerava cada vez mais, cortou um sinal sem perceber, cortou outro, quando chegou no terceiro ela resolveu parar, no entanto, um carro desgovernado veio atrás e... bateu no carro de Cíntia que ia pára o meio da pista se chocando com outros carros, naquele mesmo instante, Cíntia olhou pára o porta retrato que tinha dentro de seu carro, na foto estavam ela e Brendo, ambos de olhos fechados. Na noite da peça, Brendo pretendia pedir Cíntia em casamento.

Rubian Calixto