quarta-feira, 27 de abril de 2011

das cartas enviadas:

Natal/RN - Brasil, 23 de Dezembro de 2010.


Meu querido príncipe,
http://deflectionofabeing.blogspot.com/


Há tanto para te falar que dentro desse e-mail também vai várias gesticulações (as quais aprimorei na Itália) e variações de tons - que vão do alto ao alarmante. Te comunico: A vida é mesmo cheia de surpresa!
Faz exatamente dois meses que voltei ao meu continente e – de início, você sabe, eu não estive assim tão contente, porém, há felicidade espalhada por todo canto – basta atentar para isso. Bem, logo após todo aquele desespero entre ir ou desistir, fiquei inerte e criei mecanismos de defesas e assim consegui manter por muito tempo algo que prefiro não dar nome.
A saudade é pertinente e persistente como um João de Barro construindo seu ninho seguro e aconchegante. Ela chega aos poucos e vai montando uma estrutura forte que vez ou outra se sente abalada. A saudade me instiga a tentar. Porém, certa vez alguém me disse que a saudade é necessária. E, compreendo que, sem ela eu jamais lembraria tanto de você – assumo. Eu te quero tanto por perto e às vezes dá vontade de gritar isso. E eu até já gritei.Ah, deixa eu te contar: Após a conclusão do trabalho de nosso amigo, resolvemos brindar a vida. Encharcamos nossa noite de vinho e banho de chuva. A madrugada passava bem longe entre tantas conversas, sob aquela luz – que desta vez era vermelha - e as canções intrigantes de CocoRosie. Não havia ninguém para ‘providenciar’ um cinzeiro para nós. Porém, não permitimos que as cinzas ficassem no chão. Aprendemos com você que um copo com água pode vir a ser um cinzeiro. E hoje, descobri que um alguém pode ser AQUELE alguém. Pois bem, parece que todos aqueles pássaros que habitavam na frente do Hotel Bled, em Roma quando eu estava por lá e me traziam alegria quando eu jogava pães para eles e te ligava para dizer que eu me sentia feliz fazendo aquilo – tamanha era minha felicidade, resolveram voar para cá. Depois de tanta coisa, a vida me sorriu de volta, Príncipe e hoje tenho certeza de que precisei estar longe para me encontrar. E me achei e chegando aqui, me perdi. Perdi-me num sorriso, num sotaque carioca com pernambucano e em todo o conhecimento do Budismo – ao qual tenho estudado um pouco. Resolvi conhecer alguém de dentro para fora. E tem dado certo. Como sabe, assim como as bebidas, não costumo misturar pessoas – não mais. Fiz isso e me lasquei. O que ganhei? Aprendizado. É assim que encaro agora. Porém, estou calmo, tranqüilo e sorrindo de tudo. Voltei a trabalhar e o trabalho tem me consumido ao extremo. To malhando também. E, aparentemente estou mais forte – segundo a Djaba ( que não cansa de pegar nos meus braços) to decidido a aprender algum instrumento musical e caso eu me interesse – ainda mais, pelo Budismo, irei praticá-lo. Já pensou no choque para mamãe? Ah, ela, inclusive, perguntou por você outro dia. E eu falei que você estava bem e que a cada dia as coisas tendem a melhorar. Ou não. Ela está bem. E a rainha, como está? A princesa, dando muito trabalho? Outro dia peguei o Orkut da Djaba e vi as fotos. Nossa! Como ela é linda.
E a neve, me conta? O frio é castigante, não é? Falando em frio, veja só: Mandarei por nosso amigo um cachecol para você. É lindo e quero que você passe o réveillon com ele. Dê um jeito de usá-lo e devolva-me com o seu cheiro. Infelizmente não poderei mandar o que gostaria, contudo, amor e abraços vão às sobras. Como te falei, é um novo tempo para mim. Meu filho está chegando, provavelmente na segunda semana de Janeiro ele estará comigo. A língua dele é azul e ele se chama Theodor. Hoje ele está exatamente com dezenove dias de vida. Preciso dedicar-me a ele também. Minha vida ainda é composta por muita gente. Que vem, que vai e que fica – embora estejam longe. To feliz! é isso que queria te dizer. E mesmo não indo à Barcelona te encontrar, sei que um ‘aigarafileh’ vai tocar dentro de vossos corações. Assim como no meu – onde quer que eu esteja. E se estiver naquele lugar espalhado por nossas lembranças, darei um jeito de me comunicar, seja com um celular, com um olhar, ou por uma prece. Pedindo a Deus que esteja ao nosso lado e que nada – absolutamente nada, nem ninguém, venha tentar quebrar nosso elo, nosso amor e nosso desejo por estar perto. Estar perto não é físico, saiba disso.

Te amo.

Rubian Calixto – dedicado.