segunda-feira, 19 de setembro de 2011
No mundo da lua.
Não se sabe ao certo que lugar era aquele. Ora dava a entender que se tratava de um planeta, uma espécie de lugar desabitado, vivendo – atualmente, um fenômeno de povoação. Havia loucos – em sua totalidade. Lembro-me vagamente de uma aquarela composta por todas as cores e alguém que segurava um pincel com a ausência delas, todavia, na aquarela, tinha vermelho, amarelo e bastante azul, mas, no pincel não, tampouco na tela. Também existia música tocando o tempo inteiro. As notas passeavam de clássicos barrocos, instrumentais de compositores franceses a ritmos atemporais. Certo alguém tocava uma flauta freneticamente desconhecendo o som que se dissipava naquele lugar. Lindo mesmo era o palco em que um ‘clown’ recitava poemas de Augusto dos Anjos, permeando assim, coisas vísceras, nojentas e também complexas. Não sabia quem estava ali. Ora dominava uma voz suave, doce. Ora proferia sermões em tom ríspido e autoritário. Mas, ninguém sabia o que esse alguém queria dizer. Havia confusão no palco. Logo, presumiu-se que a presença de alguma coisa – que não se sabe o quê - girava em torno dos habitantes daquele lugar. Os questionamentos começaram a se conglomerar e junto disso, as dúvidas só aumentavam, trazendo consigo conjetura e atribuições. Quem era o dono dali? Havia um rei?
Era preciso mais que paciência, talvez até mesmo ânimo dobre onde um corpo só carregava dois pensamentos sobre determinada coisa. Disfunção – talvez. Os habitantes começaram a fazer apostas e desacreditar nas circunstâncias que os levara ali. Como haviam chegado? “Foi a aurora” – dizia um deles.
O lugar começou a receber visitas. Os sentimentos começaram a chegar. A Inveja tomou parte de tudo o que podia. O Flautista pintava melhor que o Pintor que, por sua vez, entendia de literatura e línguas das mais difíceis de ser falada. Então, fez-se as revoltas, logo depois, as discórdias e quando perceberam as brigas ocupavam o lugar. Era a Ira chegando, juntamente com a Raiva e o Ódio em sua bagagem. “O que querem aqui?” – perguntou o Clown com autoritarismo. A Ira respondeu com um olhar. “É que alguns sentimentos falam com os olhos” – disse o Ódio. E é bem verdade que os olhos falam. De repente, no planeta, um vendaval começou a se formar, a fim de ser um tornado que passaria destruindo tudo. Só havia destruição ali. E o rei, onde estava? “Todo rei precisa ser assassinado.” – disse a Raiva.
E foram em busca de um rei. “Alguém quer essa coroa?” – oferecia a Solidão segurando uma coroa cravejada de diamantes e ágatas.
Ninguém se manifestou. Pudera, o último a ter reinado foi a Falsidade. Quem garante que realmente existia poder ali?
E travaram uma guerra. Todos munidos de armas.
O Ódio apostou no amor. A Ira na Amizade. A Raiva juntou-se com o Carinho. E a Falsidade – que por pouco não luta sozinha - conseguiu apoio da Compreensão.
Bummmm!
“O tempo que passa é o tempo que me resta” – proferiu o amor em seus últimos instantes de vida.
E de longe se ouvia suaves notas sopradas com tristeza. Era o flautista lamentando a perda, a atrocidade. Ele tocava com fervor e ao mesmo tempo, alguém tomara o controle do pincel, era o Clown que escrevia em azul forte sob a tela: Se alguém vai embora, o que sobram são as memórias criadas na vida das pessoas.
Em seguida, os dois abraçaram-se e começaram a dançar ao som do silêncio no planeta que era um mundo.
Aliás, o mundo. O mundo da lua.
Rubian Calixto – em uma segunda-feira fria e triste.
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