“Como será difícil daqui para frente!” – ele pensou e resmungou. E de fato, foi.
Houve um tempo em que ele passou a matar suas emoções empoeiradas do vento forte que passava todas àquelas tardes de julho – quando ele se deu conta – e acreditou que seria possível sobreviver tudo aquilo ali, porém, não sabia como começar. Ele compreendia tudo em algum lugar perdido dentro de si, ora habitado pela coragem e maturidade que o fizeram decidir, ora desafiado pela intuição e pela precaução. Mesmo assim, decidiu – rapidamente, e se foi. Estando lá pensou: “Precisei vir até aqui para descobrir a mim mesmo.” E descobriu. Passou pouco tempo - que para ele fora uma eternidade. Brincou com a vida, com desconhecidos, com bebidas e sorriu para o passado que mesmo longe batia sua janela todas às manhãs sob o azul daquele céu que durava horas a mais que o normal. Era inacreditável, passando pelo incrível que era tátil, pois, ultrapassava tudo isso. E dentro do seu vazio não havia ressonância alguma do passado, aliás, não havia nada, era – literalmente – um vazio. Percebeu que seu otimismo não mudara, assim como seu poder em acreditar e decidiu acreditar. Sem grandes planos, sem muitas vontades e sem a mãe por perto, como seria? – indagou.
E voltou. Voltou curado e assolado pelo medo do reencontro, afinal, não há fuga para o que há por dentro. A gente foge do físico, só.
Hoje a vida me sorriu e resolvi retribuir, embora meus lábios demorem a entender qual o real motivo desse sorriso, porém, no reflexo de outro sorriso eu consigo me achar e me perder – simultaneamente. Olhando para trás, eu só enxergo magoas que você não supera, consigo absorver a imaturidade que te soberba e todo o seu mundo arredio. Lamento e ao mesmo tempo agradeço por me afastar de pessoas que não sinto admiração alguma, do contrário, sinto repulsa e o quanto eu puder manter a distância, hei de manter. Meu sorriso será o mesmo, assim como meu abraço e toda essa farsa que você me ensinou, que eu posso inventar um amor, uma dor, usá-la como arma e ferir quem estiver por perto. E posso, - além de tudo isso, sentir pena de mim e transportar esse sentimento para os outros. Aprender com o sofrimento talvez seja uma lição, uma absorção e um refúgio. Desse lado, continue guardando o que há de bom, pois, do meu, o melhor ainda está por vir. E sorrir – é o que me resta. Afinal, hoje, a vida resolveu me sorrir como antes, como ontem, como naquela noite de novembro.
Rubian Calixto - dedicado.
segunda-feira, 20 de dezembro de 2010
terça-feira, 7 de setembro de 2010
Independência que depende.
A voz de mamãe ainda estava sonolenta quando atendeu minha chamada. Talvez pelo euforismo eu tenha esquecido o fuso horário. Alias, eu realmente esqueci. Era 5h19 no Brasil e para mim o dia já estava chegando na metade. Ontem me senti tão triste que choraria um rio caso houvesse lágrimas. Entretanto, coloquei um filme, fiz um chocolate quente e fui para varanda ver a claridade passar do cinza para o preto. Deixei o filme rolando, pois eu já sabia qual serio o final, afinal, eu já vi o filme algumas vezes. "The Bubble" sem duvida ganhou minha simpatia e tornou-se um dos meus filmes favoritos, confesso. O frio que fazia na varanda me fez colocar cachecol e calçar pantufas.
Entretanto, não consegui esquentar o frio do meu coração. Como se o frio não fosse suficiente, minha cabeça saiu do lugar e foi parar a milhas de distancia. Observei os carros parados, o verde, vislumbrei toda aquela solidão. Não havia ninguém nas ruas, nem gritos desesperados, nem crianças correndo, nem caes sem dono, mendigos, Banda Grafith ou talvez um forro tocando na casa do vizinho. Não, não havia isso a minha volta. Senti-me preso. Chorei, chorei por dentro.
De saudade. De felicidade. Como pude ser tao intrépido? - pensei. Mamma Mia!
Minha cabeça a mil, uma dorzinha inconveniente. Téo ao meu lado e a solidão bem ali, no horizonte. Admirando a paisagem e os telhados que daqui há pouco estarão brancos. Decidi. A neve vira e eu não quero me soterrar.
Quando mamãe atendeu dizendo sentir saudade e perguntando se eu liberei meu twitter, eu disse: - dobra os joelhos, ora. Pede a Deus que cuide de mim, pois hoje eu decidi: to indo morar em Roma.
Rubian Calixto - dentro do trem que chega a Roma pontualmente as 16h45 ao som de Litte Joy.
quinta-feira, 2 de setembro de 2010
Casalgrande, RE, Italia, 3 settembre 2010.
Nesse instante a janela na qual vejo a lua encontra-se aberta, assim como meu coração. As cores que o céu permite me mostrar são esplêndidas. Vão de um azul bem forte, passando pelo cinza até chegar no preto. Pretas, assim são as meias que esquentam meus pés. O frio parece que ta chegando por aqui. Quando são aproximadamente 22h eu preciso fechar as janelas! - é uma sorte elas serem de vidro, logo, posso ver o céu mesmo estando fechadas. O céu tem sido um grande amigo, assim como Téo. Téo ta com um cheirinho de frio. Você precisa sentir. Oh, lembro bem que você foi a ultima pessoa que o abraçou da vez que estivemos n'outro continente. Nossa Amélie, como meus dias tem sido felizes por aqui. Ah, veja bem... não estou te escrevendo essa carta como modo de retribuir o que me escrevestes onde não se chega horizontes, ta bem? Te escrevo por saudade e por vontade de te contar como tem sido tudo aqui. Como bem sabes, comecei a semana em Roma. E la, pude ver o quão é grande nosso egoísmo em nos aprisionarmos a uma vida qualquer. Acredite Amélie, há tanto para conhecer. A cada tijolo erguido que eu observava nas ruas, sentia um pouco de historia neles. Imagine o quesão tantos anos. Anos a.C, anos d.C. São anos, muitos anos! Onde transitou desde a Monarquia, República Oligárquica até chegar a esse Império. Nossa, saber que a Idade Média iniciou ali, assim como toda a historia da Igreja Católica, a qual submeteu Roma a doar parte de si para que se tornasse um estado independente. Certamente você sabe disso bem mais que eu, afinal, lecionar aulas de Ciências da Religião é um de seus grandes feitos. Em Roma, - como te falei - pude constatar muitas coisas, dentre elas,arquitetura, arte e baladas me chamaram mais atenção. (Não necessariamente nessa ordem, que fique claro.) Por ser uma cidade grande, sinto que la as expectativas multiplicam, assim como as possibilidades. Bem, sei que te deixei um pouco confusa com minha partida e reconheço que até fui tolo em não me despedir direito, contudo, me conheço o suficiente a tal ponto que sei o que estou fazendo, embora alguns duvidem e achem que não. Talvez você já tenha sido confundida por mim, Amélie. Talvez não, certeza!
Bem, aqui na Europa, tudo é realmente diferente. Me assusta ver tantos carros nas ruas, tantas motos e tantas bicicletas. Me assusta olhar para o relógio, ver que são20h e ainda haver sol. E isso me faz esperar mais para ver o por do sol. Porém, mato o tempo que tenho nos livros, filmes e em tentativas frustrantes de dialetos no "bar" aqui do prédio. Sempre encontro com Margarida quando desço para tomar um capuccino. As vezes acabo tomando dois, pois, fico ouvindo Margarida falar como se estivesse entendendo. E no final eu digo: "Io non capisco niente!" E juntos, sorrimos. Talvez Margarida se torne uma amiga, talvez eu me apaixone por ela. Minha grande dificuldade aqui tem sido a língua. Nossa Amélie, prefiro dez mil vezes seu francês fajuto ou até mesmo meu espanhol. Ah propósito, outro dia estive numa boate que fica numa cidade vizinha. Fui com dois amigos do meu tio. Eles são mais velhos, porém são muito legais. Quando cheguei a boate, só tocava salsa. Eu enlouqueci. Não sabia que salsa era um ritmo tão caliente e sexy. Lembro-me que no verão do ano em que estamos, dançamos reggaeton em Pipa, não é verdade? Pois bem, salsa se aproxima muito e se dança junto. Nossa, é uma coisa incrível. Logo, o modo como uma garota dançava me chamou atenção. Esperei ela terminar a dança e fui até sua mesa. Chegando la falei: " Non parlo italiano." Ela sorriu. Perguntei se ela falava inglês. Ela disse não. Fiquei nervoso. Perguntei se falava em espanhol. Dai, a amiga dela - muito bonita por sinal - falou que sim. Então, arranhei no espanhol e acabei arranhando também na salsa. E, Amélie, sugiro: faça aulas de salsa. Enfim provei mojitos e eles fazem uma caipirosca com morango que é simplesmente fantástica, você precisa provar. Afinal, sei que morango muito lhe atrai!
Amélie, é como te falei. Tenho pintado telas por aqui. Tenho usado o máximo de cor possível, porém, algumas tardes exige tons de bege. O amarelo também sempre ta presente em minhas tardes. Vez ou outra coloco um pouco de rosa em minhas manhas, pois, ligo o som naquelas porcarias americanas e danço. Sim, tenho dançado em casa! Algumas tardes também chegam a ser um pouco enigmáticas. E as vezes até pego no sono, pois, fico cansado tentando entender. As noites costumam ser lindas. Sempre leio, penso e estudo um pouco italiano. Ah, também tem a TV que tem me feito um bem danado. Existe um seriado daqui que despertou minha atenção e já estou até acompanhando. Sem legendas, infelizmente. Então, ou recorro a alguém, ou ao dicionário. Do contrario, eu mesmo crio uma situação para a cena em questão. E tem sido tao divertido. Amélie, já ia esquecendo... quando estive em Roma, um outdoor me chamou bastante atenção. Ele estava exposto em um dos museus de Roma. Era bem grande, enorme. E havia uma bela mulher tendo seus olhos tapados por mãos gigantescas e robustas. Quando li, percebi que a Disney levara o musical A Bela e A Fera para Roma, dia 22 de outubro, para ser mais exato! Automaticamente lembrei de você e de uma outra amiga - que a propósito você conhece - enfim, caso esteja por essas bandas em outubro, podemos nos organizar para ir, que acha? Eu acho valido. ( Ouço daqui você dizer: " além de achar suuuper valido, acho necessário!") Então, tenho colocado bastante verde em minhas telas, o que me faz gerar muita esperança e acreditar que tudo vai ficar bem. Tenho preenchido bastante as telas. Serio mesmo. Elas vão de tantas cores, tantos traços que chego a senti-las carregadas demais. Entao, sempre deixo um espaço para desenhar um alguém.
Amélie, como podes ver, me encontro um pouco euforico, talvez por ter descoberto que o mundo é tao grande... eita Amélie, alguém bate na porta. Vou atender!
- Era a saudade me pedindo um pouco de tinta para rabiscar uma tela.
Com carinho e pinceladas;
O pintor
P.s: Me manda noticias do carrossel e de maquinas fotograficas.
Rubian Calixto - dedicado.
quarta-feira, 25 de agosto de 2010
Natal/RN - Brasil, Arrivederci!
São aproximadamente 19h. Minha família e alguns amigos já foram e a única companhia que desfruto nesse instante é a do meu querido Téo. Sinto um vazio no meu estômago a quem eu não ouso chamar de fome, pois sei que não é. Meu celular ainda encontra-se ligado e isso me faz receber ligaçoes e sms's. As pessoas ainda não acreditam que estou partindo. Ninguém acredita na minha decisão e alguns duvidam da minha coragem, jamais da minha capacidade, jamais. Eu as conforto insistindo em que eu não sei quando volto ou se volto. Possa ser que eu não suporte o frio, ou o calor, ou as pessoas, talvez meu novo emprego, talvez. Bem, assim como nao estou indo pensando em mudar, também não mudei para ir. Continuo o mesmo, garanto! Quem sabe eu passe poucos dias, ou só alguns meses, talvez anos, talvez. Enfim, minha vida esta entregue ao meu desejo insaciável de viver. Ainda quero me permitir e vou. Alias, estou. Porém, jamais quero esquecer quem sou ou o que busco, jamais. Ao contrario de alguns, ainda faço questão de ser além, ah, bem além. Quero ser o Rubian que coleciona sorrisos e que simplesmente encara as coisas com esse rosto marcado pelas decepções. Ah, e a despeito disso, arregaço as mangas e encaro o que vir. Que venha. Alias, acabo de receber um sms de alguém que jamais imaginei. Abre aspas: " Quem me dera ter ao menos duas pessoas como você em minha vida. Enquanto a gente não se reencontra, vou - erroneamente - tentar encontrar alguém como o garoto que anda por ai, carregando dois sacos cheios em cada mao. Um com perguntas, o outro com exclamações. Vai la, Rubian Calixto, você que faz o mundo girar."
Penso comigo mesmo após ler isso e chego a conclusão de que, não importa o lugar, a hora, o continente, fuso horário. Não! Nada disso importa. O ser humano é mesmo incrível. Demorei e me assusto ao perceber que com o tempo, tudo passa.
" Embarque no portão A, voo 737, com destino a Milão, Itália."
Fechei bem os olhos, alias, eu os cerrei, suspirei e de longe, bem longe, nos meus ouvidos eu ouvi: Fica feliz que vai funcionar! Talvez essa tenha sido a chamada da minha felicidade, talvez.
Rubian Calixto - por volta das 19h30 na espera do voo que atrasou, contudo, posou como uma borboleta num continente chamado Europa.
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