Cara Amélie,
Nesse instante a janela na qual vejo a lua encontra-se aberta, assim como meu coração. As cores que o céu permite me mostrar são esplêndidas. Vão de um azul bem forte, passando pelo cinza até chegar no preto. Pretas, assim são as meias que esquentam meus pés. O frio parece que ta chegando por aqui. Quando são aproximadamente 22h eu preciso fechar as janelas! - é uma sorte elas serem de vidro, logo, posso ver o céu mesmo estando fechadas. O céu tem sido um grande amigo, assim como Téo. Téo ta com um cheirinho de frio. Você precisa sentir. Oh, lembro bem que você foi a ultima pessoa que o abraçou da vez que estivemos n'outro continente. Nossa Amélie, como meus dias tem sido felizes por aqui. Ah, veja bem... não estou te escrevendo essa carta como modo de retribuir o que me escrevestes onde não se chega horizontes, ta bem? Te escrevo por saudade e por vontade de te contar como tem sido tudo aqui. Como bem sabes, comecei a semana em Roma. E la, pude ver o quão é grande nosso egoísmo em nos aprisionarmos a uma vida qualquer. Acredite Amélie, há tanto para conhecer. A cada tijolo erguido que eu observava nas ruas, sentia um pouco de historia neles. Imagine o quesão tantos anos. Anos a.C, anos d.C. São anos, muitos anos! Onde transitou desde a Monarquia, República Oligárquica até chegar a esse Império. Nossa, saber que a Idade Média iniciou ali, assim como toda a historia da Igreja Católica, a qual submeteu Roma a doar parte de si para que se tornasse um estado independente. Certamente você sabe disso bem mais que eu, afinal, lecionar aulas de Ciências da Religião é um de seus grandes feitos. Em Roma, - como te falei - pude constatar muitas coisas, dentre elas,arquitetura, arte e baladas me chamaram mais atenção. (Não necessariamente nessa ordem, que fique claro.) Por ser uma cidade grande, sinto que la as expectativas multiplicam, assim como as possibilidades. Bem, sei que te deixei um pouco confusa com minha partida e reconheço que até fui tolo em não me despedir direito, contudo, me conheço o suficiente a tal ponto que sei o que estou fazendo, embora alguns duvidem e achem que não. Talvez você já tenha sido confundida por mim, Amélie. Talvez não, certeza!
Bem, aqui na Europa, tudo é realmente diferente. Me assusta ver tantos carros nas ruas, tantas motos e tantas bicicletas. Me assusta olhar para o relógio, ver que são20h e ainda haver sol. E isso me faz esperar mais para ver o por do sol. Porém, mato o tempo que tenho nos livros, filmes e em tentativas frustrantes de dialetos no "bar" aqui do prédio. Sempre encontro com Margarida quando desço para tomar um capuccino. As vezes acabo tomando dois, pois, fico ouvindo Margarida falar como se estivesse entendendo. E no final eu digo: "Io non capisco niente!" E juntos, sorrimos. Talvez Margarida se torne uma amiga, talvez eu me apaixone por ela. Minha grande dificuldade aqui tem sido a língua. Nossa Amélie, prefiro dez mil vezes seu francês fajuto ou até mesmo meu espanhol. Ah propósito, outro dia estive numa boate que fica numa cidade vizinha. Fui com dois amigos do meu tio. Eles são mais velhos, porém são muito legais. Quando cheguei a boate, só tocava salsa. Eu enlouqueci. Não sabia que salsa era um ritmo tão caliente e sexy. Lembro-me que no verão do ano em que estamos, dançamos reggaeton em Pipa, não é verdade? Pois bem, salsa se aproxima muito e se dança junto. Nossa, é uma coisa incrível. Logo, o modo como uma garota dançava me chamou atenção. Esperei ela terminar a dança e fui até sua mesa. Chegando la falei: " Non parlo italiano." Ela sorriu. Perguntei se ela falava inglês. Ela disse não. Fiquei nervoso. Perguntei se falava em espanhol. Dai, a amiga dela - muito bonita por sinal - falou que sim. Então, arranhei no espanhol e acabei arranhando também na salsa. E, Amélie, sugiro: faça aulas de salsa. Enfim provei mojitos e eles fazem uma caipirosca com morango que é simplesmente fantástica, você precisa provar. Afinal, sei que morango muito lhe atrai!
Amélie, é como te falei. Tenho pintado telas por aqui. Tenho usado o máximo de cor possível, porém, algumas tardes exige tons de bege. O amarelo também sempre ta presente em minhas tardes. Vez ou outra coloco um pouco de rosa em minhas manhas, pois, ligo o som naquelas porcarias americanas e danço. Sim, tenho dançado em casa! Algumas tardes também chegam a ser um pouco enigmáticas. E as vezes até pego no sono, pois, fico cansado tentando entender. As noites costumam ser lindas. Sempre leio, penso e estudo um pouco italiano. Ah, também tem a TV que tem me feito um bem danado. Existe um seriado daqui que despertou minha atenção e já estou até acompanhando. Sem legendas, infelizmente. Então, ou recorro a alguém, ou ao dicionário. Do contrario, eu mesmo crio uma situação para a cena em questão. E tem sido tao divertido. Amélie, já ia esquecendo... quando estive em Roma, um outdoor me chamou bastante atenção. Ele estava exposto em um dos museus de Roma. Era bem grande, enorme. E havia uma bela mulher tendo seus olhos tapados por mãos gigantescas e robustas. Quando li, percebi que a Disney levara o musical A Bela e A Fera para Roma, dia 22 de outubro, para ser mais exato! Automaticamente lembrei de você e de uma outra amiga - que a propósito você conhece - enfim, caso esteja por essas bandas em outubro, podemos nos organizar para ir, que acha? Eu acho valido. ( Ouço daqui você dizer: " além de achar suuuper valido, acho necessário!") Então, tenho colocado bastante verde em minhas telas, o que me faz gerar muita esperança e acreditar que tudo vai ficar bem. Tenho preenchido bastante as telas. Serio mesmo. Elas vão de tantas cores, tantos traços que chego a senti-las carregadas demais. Entao, sempre deixo um espaço para desenhar um alguém.
Amélie, como podes ver, me encontro um pouco euforico, talvez por ter descoberto que o mundo é tao grande... eita Amélie, alguém bate na porta. Vou atender!
- Era a saudade me pedindo um pouco de tinta para rabiscar uma tela.
Com carinho e pinceladas;
O pintor
P.s: Me manda noticias do carrossel e de maquinas fotograficas.
Rubian Calixto - dedicado.