segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

A vida é feita de erros – pensou. Ao abrir os olhos, percebeu que a escuridão permeava o quarto de luminária azul com luz negra. Foi então que resolveu esfregar-los a fim de encontrar a claridade. Encontrou! Nos olhos, jamais na mente. Fazia um dia lindo lá fora, propício para um passeio de barco. Lembrou que não possuía um barco, tampouco tinha tempo para tal. Era um sábado de trabalho – como de costume. Aliás, como de ‘novo costume’. Um saco trabalhar aos sábados – falou enquanto escovava os dentes com a mão esquerda. Faço isso para treinar minha memória – enfatizou para si, lembrando que é destro. Abriu as cortinas da janela que já estava aberta e viu o mar. Queria ser um peixe – almejou. Peixes não possuem memória. Tudo para eles é novidade, tudo. Se eu estivesse dentro de um aquário – por exemplo, cada volta seria uma descoberta. Uma pedrinha aqui, um coral por ali e na próxima volta: tudo era novo – de novo. Imagina num oceano, talvez eu esquecesse quem eram meus predadores e desejasse ser amigo deles ou até mesmo algo mais.
Mas não, seria chato não ter memória, afinal, jamais me prenderia a lembranças. E elas são necessárias – achou.
Olhou para o relógio e sentiu-se atrasado.
Se eu fosse um pássaro, chegaria lá em segundos – profetizou. E teria a liberdade de migrar com desconhecidos, alçar vôo, seguir em bando para qualquer lugar do planeta, passaria horas voando, cansado e focado na ideia de chegar a algum lugar e chegando lá, poderia dizer que pertenço a outro bando, que sou uma espécie rara e que não há tantos pássaros como eu. Olhou para as nuvens e quis voar. E quando o elevador chegou ao 9º andar, sentiu-se preso. De que me valeriam asas se estou preso ao desejo de ser - também, um peixe?
Entrou no carro e não colocou música.
Trabalhou.
Ao voltar do trabalho, pensou: Eu bem que poderia ser uma árvore.
Interessante e intrigante a ideia de fixar raízes. Todavia, para isso, eu precisava adaptar-me ao solo. Em quais solos eu poderia fixar-me? - questionou.
Depois de todos os acontecimentos do dia do sábado, da manhã, da tarde, da noite e até da madrugada, foi dormir já no domingo, onde a claridade invadia não apenas o seu quarto, mas também sua mente.
Como confiar nos seus sentimentos quando eles simplesmente desaparecem? – dormiu pensando.

Rubian Calixto

5 comentários:

Anônimo disse...

Como sempre, vc faz alusão a alma humana, se apropriando dos recursos da natureza! Perfeito!
Uma Sugestão, nos próximos textos, tenta colocar mais cenários para o personagem, irá enriquecer mais ainda os seus textos! Abraço!

Caio Ribeiro

Nathalia disse...

Ru, mereceu mais! Deu gosto de quero mais! rss

desde 2010 com preguiça de blogar. Nathalia Calixto
Bjs

Anônimo disse...

Cara, que texto incrível.

Anônimo disse...

O que fazer com os sentimentos se eles já não existem mais?
Eis o questionamento humano, amigo.

Anônimo disse...

É sempre assim: UM CONTENTAMENTO DESCONTENTE.