sexta-feira, 21 de maio de 2010

A menina que plantava girassóis.




Embora soubesse que a planta era originária da América Central, Laila insistia em cultivá-las. Agregado ao seu gosto por história, acabou descobrindo que alguns objetos incas faziam referencia aos girassóis, havia também um amor por trás de tudo aquilo. A ligação que Laila buscava com o mundo transcendental é também uma característica notória, pois, aos treze anos, ela passou a acreditar que para se ter sorte, era necessário ter onze girassóis plantados no quintal de sua casa. Órfã de pai e mãe, Laila foi a única sobrevivente do acidente que causou a morte de seus pais e de seu irmão. Ela ainda lembra do dia e guarda alguns traumas consigo. Devido à perda, precisou morar com sua única tia, na Espanha, por volta dos anos 60 abandonando a Hungria e toda uma vida já constituída. A Hungria sempre foi o lugar onde Laila pretendia terminar tudo o que começou. Constituir uma família, continuar o contato com seus amigos, e ministrar aulas de História na Universidade Eötvös Loránd, em Budapeste. Entretanto, o destino muda seu curso, às vezes. Laila era – aparentemente - uma pessoa agitada e efusiva, contudo, guardava um silêncio dentro de si. Todas as noites contava estrelas, escolhia as que mais brilhava e só parava quando encontrasse onze. Ou, adormecia antes de terminar a contagem. Era romântica, jamais cética. Aliás, ela deixou de ser após conhecer Amilton.
Assim que se mudou da Hungria para a Espanha, Laila matou quem ela era, junto disso, todos os que passaram em sua vida. As lembranças ficaram e a vontade de matá-las também. E assim travou a batalha. A pancada do novo chegou à vida de Laila como uma tempestade inesperada numa manhã radiante de novembro. E ela acatou isso, pois, estava extremamente vulnerável e fragilizada.
Amilton e Laila se conheceram em um dia nublado, o preto predominava em suas vestes e o céu não possuía estrelas. Foi na fila do teatro. Ambos estavam ali sem saber na verdade o que procuravam. Era uma transfiguração de um filme que foi transformado em musical. Pelo estado de espírito dela, uma comédia ou ‘stand up’ seria bem mais cômodo, digamos. Entraram juntos, sentaram juntos e, após o espetáculo, discutiram juntos regados a café em um pub que escondia estrelas em seu teto. Era incrível como a hora havia se passado e eles perderam tudo em meio à conversa. Laila não acreditara que sua vida estava entregue a um cara que nunca tinha visto e Amilton jamais imaginou apostar naquela noite em que seu relacionamento havia acabado. E apostou. Apostou consigo que Laila seria a cura para sua dor, pois a mesma causou uma sensação jamais sentida por ele. Daquele dia em diante, tudo mudou sem nada sair do lugar. Eles viraram protagonistas de uma história não contada, mas sim, narrada. Narrada pelo sentimento mais nobre que um poderia sentir pelo outro. Era amor e eles reconheciam isso. A intimidade que possuíam era incrivelmente absurda. E isso só aumentava o desejo de estar juntos. Laila conhecia todos os gostos de Amilton e isso era mútuo. Seu fascínio por pipas, pela cor, por números, literatura, arte, cinema, gastronomia. Tudo isso era compartilhado comumente e como dois estranhos eles se conheciam a cada dia. Porém, um chamado muda tudo. Amilton foi convocado para ir à guerra e isso era o suficiente para o amor esmorecer. E assim foi. A partida de Amilton deixou em Laila uma lacuna que ela tentava preencher diariamente, tentando definir saudade e matando suas lembranças. Isso era frustrante. Contudo, se fazia necessário.A única coisa que Amilton levou consigo fora um saquinho contendo algumas sementes, essas, as que Laila pretendia plantar no quintal de sua casa assim que casassem, esse era um dos planos que compartilhavam. Laila sabia que o amor não iria mudar, entretanto, ela precisava se reconstruir acima de tudo e buscou fatores que a norteasse. O lócus de controle de Laila tornou-se uma coisa extremamente externa. Sua tia passou a intervir em suas escolhas e a fez acreditar que sair da Espanha seria a forma mais fácil de esquecer tudo aquilo. Ela achou não ter escolha, pois, um buraco abriu naquele instante e todas as circunstâncias levava à crer que eles nunca mais se encontrariam. E assim foi. Laila vai para a Suíça e passa a ministrar aulas na Universidade de Genebra onde conhece um professor de Ciências Políticas e casa-se com ele.
Laila passa a viver uma vida pacata e infeliz, contudo, ela cultiva os onze girassóis que existe em seu quintal. Ela tenta não acreditar em sua verdade e sim nos fatos, nos pensamentos, na sorte e no sonho que a atormenta diariamente. Onde ela vê um campo coberto por girassóis, pipas no ar e um banquinho, tão distante que a impede de saber se existe ou não alguém lá.



Rubian Calixtoàs 11h49, de uma sexta feira, saindo para o almoço.

2 comentários:

_Brito disse...

Alocka eu que lembrei de Mylena com essa postagem...

Espero que ela esteja bem. Espero que a Laila fique bem. Falta um pouco de Dominique nela... http://www.youtube.com/watch?v=rhrlGdCvkXM

HAHA... brinks.

Abração cara... ^^

Elora Fernandes disse...

*_* Que lindo!