segunda-feira, 14 de junho de 2010

; a chuva.

Esqueci tudo o que a noite anterior havia me lembrado. E, fiz do mar um refúgio para meu silêncio. Olhei cada onda que molhava a areia e deixava um pouco da espuma branca que se perdia em fração de segundos. As ondas são incríveis. Elas se formam de modo impulsivo, adquirindo uma força e uma beleza assustadora. Enquanto o sol brilhava na íris do meu olho esquerdo, fechei o direito para enxergar melhor. Não sei como isso funciona, contudo, na claridade, é como se eu enxergasse melhor com um olho só. No escuro as coisas mudam. Admirei a liberdade que me prendia. Admirei minha capacidade de absorver as coisas e minha imaturidade com entender os outros. Pensei sobre erros, recalques, absurdos e tudo o mais que anda tirando meu sono quando deito invertido na cama. Lembro que mudar exige muito mais que ciclo, pessoas, lugares. Mudar é algo mais intimo, pessoal e intransitivo. De dentro pra fora, como quem mostra ser alguém que nunca foi. Vejo a cicatriz na minha perna direita e lembro. Lembro daquele dia em que fui mordido pelo meu próprio sonho. Vi que minha perna mudou, não é mais a mesma, assim como meu medo, aliás, o medo que adquiri. Quantas coisas mudaram em minha vida em tão pouco tempo. Assustei-me ao pesar as coisas. Sozinho, indeciso e preciso. Resolvi tatuar e mais uma vez, desisti. Mudei de ideia, assim, como mudo a roupa. Assim, como uma pessoa muda a outra. Vi que ainda sou o mesmo. Ainda confundo as pessoas, continuo sendo incógnita e vivendo abaixo das expectativas que me são impostas. É mais fácil viver assim. Anonimato. Meus lábios estavam secos, assim como meu corpo que naquele instante estava exposto ao sol. Pernas de fora, areia, calor. Uma parada, um susto. Um encontro. Agora, ninguém fugiria. Ou não. Entre golpes grotescos do ferro sobre a pedra vi minha fúria tornar-se fogo. Não era capaz de entender o que eu sentia. Vergonha, desprezo, raiva. Tudo estava misturado e molhado. Enxuguei o suor com a palma da mão. Estava cansado, afinal, a noite anterior... Olhei-me pelo retrovisor e peguei o celular que havia uma mensagem. Ignorei. Era ali que eu precisava estar. E estava. Por instantes algumas lembranças tentaram voltar, afinal, não dá pra esquecer tempo, modo e espaço. Eu sabia onde estava e com quem eu estava. E, sabia mais ainda tudo o que já tinha feito ali e como tinha feito. Não, eu não sou tão bom em apagar memórias. Lembrei. Os olhares se cruzaram e miraram. O que havia ali senão confusão? A conversa. O ressentimento. A cura. A dor. A promessa. O esquecimento. A mudança. A falsa modéstia. E, claro, as mentiras. Em pé, num lugar tão familiar quanto os corpos. Estiveram embalados sob latidos desesperados, preocupação e medo. Um gole ou outro de cerveja, as surpresas, as discórdias e mais uma vez, as mentiras. Questionamentos, direito de não-respostas, do silêncio. Desisti. Contudo, ouvi. Atentamente, como uma aula ou um assunto desconhecido que atiça meu desejo por sabedoria. Pobre, sem emoção. Como uma peça de teatro barata onde a arte é deixada para trás e o desejo vai além da emoção. Na transfiguração. Não se sabe quem estava ali. Eu, particularmente não sei. Sem abraços, sem proximidade, sem olho no olho. Apático, magro, estranho. Não foi nada lindo. Não foi.
Ainda sem um fim, sai em direção ao banho e enquanto a água gélida batia no meu corpo e levava consigo a sujeira, o suor, a espuma branca... olhei para o ralo e vi que, além de tudo isso, lá estava, descendo pelo ralo tudo o que eu havia ouvido. Pois é, eu não acredito em você.


Rubian Calixtoem uma segunda feira que amanheceu sob a chuva que veio molhar muita coisa, inclusive, meu ego.

4 comentários:

A. Paula disse...

O pior... Não podemos fazer sentir o que sentimos. Não podemos fazer acreditar o que acreditamos... Ser humano é ser incabado.

- Nathalia disse...

Rubian'Calixto disse...

não! não é o que eu estou pensando.

27 de maio de 2010 14:23



' o que o que rsrs ?

Saudades, beijos.

Vivi Kate disse...

O importante é saber que a chuva tb lava a alma...

(Bian... apaguei seu comentário do meu post sem querer... Repõe por favor? Tão carinhoso! Saudades!)

Nary disse...

Olhe, saudade de você.
Nem li pq passei rapidissimo.
só pra deixar um bjo
=*

E ah, mudei o end do meu blog é: http://nary.difluir.com