Houve um dia em que ele desistiu. O azul estrelar do seu céu de amores deu lugar a uma nuvem cinza de ilusões. Lembro-me perfeitamente daquela noite cinza de maio que trouxe consigo uma chuva que lavou não apenas seus olhos, mas também sua alma. Cantou sozinho no trânsito fazendo seu itinerário de volta para casa. A música falava em desaparecer, eu acho. Aliás, tenho certeza. Seu pensamento era inconstante, o fez inevitavelmente voltar o tempo como alguém que aperta o ‘slow’ e observa atentamente cada fragmento de uma história. E, como um livro ele voltou às páginas. Sorriu. Contudo, lágrimas estiveram mais presentes. Como a vida é intrusa, lembrou. E esqueceu de quem foi. Parado no vermelho do semáforo, perguntou a um estranho se ele conseguia enxergar a tristeza do seu olhar. O estranho não era confiável, imaginou. E preferiu ficar sem a resposta. Acelerou. Passou a duvidar, desacreditar, desconfiar e mais que isso, a desistir. Desistiu de entender, adivinhar e buscar. Lembrou que a busca gera expectativas e expectativas geram decepções. E ele não precisava de mais uma. Seu histórico comprova a situação. Como fatos comprovam o crime num tribunal. Réu, culpado, testemunha. Não havia. Foi tudo suposição. Invenção. Jogo. Era um jogo e ele demorou a entender isso. Na verdade, ele percebeu quando chegava em casa e foi antes de descer que disse a si mesmo que a partir de agora ele só quer uma coisa: tentar ser a pessoa que esqueceu.
Rubian Calixto – às 10h14 de uma linda manhã de sexta feira onde eu queria que fosse composta por 50h.
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